O título acima, que desperta a curiosidade por se tratar de temas que não guardam qualquer correlação um com o outro, possuem sim uma similitude, pois ambos foram afetados por regras do mercado publicitário.
Inicialmente é necessário esclarecer que o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) é uma organização da sociedade civil fundada por entidades do mercado publicitário brasileiro para regular a publicidade no país, portanto, não é um órgão estatal, não exerce poder de polícia, não multa e também não elabora leis, de modo que as decisões do Conar são apenas recomendações.
Há ainda o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, elaborado pelo CONAR, que nada mais é do que um manual do politicamente correto da indústria publicitária.
Após a live do cantor sertanejo Gusttavo Lima o Conar abriu uma representação ética contra as ações publicitárias transmitidas ao vivo pelo cantor no youtube, após, segundo o órgão, o recebimento de dezenas de denúncias. Segundo o Conar: “ A denúncia cita a falta de mecanismo de restrição de acesso ao conteúdo das lives a menores de idade e a repetida apresentação de ingestão de cerveja, em potencial estímulo ao consumo irresponsável do produto.” Nota-se que a fundamentação é bastante subjetiva, deixando diversas brechas para interpretações.
Tá, mas o que este caso tem a ver com o fim dos desenhos infantis na TV aberta?
As censuras realizadas pelo órgão tornaram a publicidade voltada para as crianças bastante difícil, e com retorno mercadológico menos atraente, afastando as empresas que comercializam produtos infantis da tv aberta, o que trouxe como consequência o afastamento também da programação infantil da tv aberta, com raríssimas exceções, como SBT, cuja política interna mantém a programação infantil apesar de não ser financeiramente atraente para emissora e a TV Cultura, que não é um canal comercial.
De forma alguma deve-se incentivar a exibição de qualquer tipo de propaganda ao menor, sem qualquer controle, mas deve-se focar o controle para aquelas que possam representar danos físicos ao menor, ou que possam trazer consequências psicológicas graves, de modo a permitir com que a criança ainda possua em ambiente televisivo com programações destinadas a ela também na tv aberta, pois o que é pior, haver propagandas que estimulem o consumo (que inclusive abre o debate para discussão do assunto no seio familiar) ou não haver programação infantil nas emissoras de televisão?
Ainda que tenha celebrado as medidas de proteção às crianças com as melhores das intenções, vê-se que o Conar acabou por prejudicá-las, praticamente exterminando com a programação infantil da tv brasileira.
Já no caso de Gusttavo Lima, o cantor já deu a entender que não gravará mais lives como aquela que gerou tanta repercussão negativa e arrecadou mais de meio milhão de reais entre dinheiro, equipamentos de segurança e alimentos.
Parece estarmos diante de um remédio que para curar acaba por matar o paciente.